2010-09-15

Henrique de Barros

Os senhores vereadores do PSD e OHS votaram contra - erradamente na opinião deste blogue - uma proposta do presidente da Câmara de Oliveira do Hospital que pretendia atribuir, a título póstumo, a medalha de mérito do concelho (no próximo dia 7 de Outubro, feriado municipal) a Henrique de Barros – uma figura, com ligações a Fiais da Beira.

Opositor desde jovem ao regime ditatorial do Estado Novo, Henrique de Barros filiou-se no Movimento de Unidade Democrática (MUD) em 1945. Aderiu ao Partido Socialista (PS) em 1974 e um ano depois foi eleito Deputado à Assembleia Constituinte, da qual foi Presidente. O seu nome fica assim indissoluvelmente ligado à Constituição Republicana de 1976.

Das suas acções mais relevantes, destacam-se a criação do Instituto António Sérgio do Sector Cooperativo e a reestruturação da Comissão da Condição Feminina. Na ausência do Primeiro Ministro competia-lhe presidir ao Conselho de Ministros, além de depachar expediente com outras secretarias de estado.

Sobre Henrique de Barros disse, no decorrer da inauguração do seu busto (presente no átrio do Palácio de São Bento), João Bosco Mota Amaral (PSD):

Não foi mera obra do acaso, ou simples fruto de equilíbrios políticos momentâneos, a escolha do Professor Henrique de Barros para Presidente da Assembleia Constituinte. De algum modo, ainda antes de ser eleito para tão honroso cargo, já tinha ganho direito a ele, mercê de uma longa vida de intervenção cívica e democrática, votada ao corajoso combate contra a Ditadura e as variadas formas de opressão pela mesma destiladas.
A sua dedicação profissional ao magistério universitário, a sua autoridade científica nos domínios da economia agrária, o seu envolvimento apaixonado na promoção do cooperativismo, como instrumento de reforma da sociedade, numa perspectiva humanista e solidária - tudo longe dos temas jurídico-políticos que iriam formar o cerne da actividade da Constituinte - não o credenciavam, aparentemente, para as responsabilidades presidenciais.
Porém, a prática demonstrou, desde os começos, não haver, entre os duzentos e cinquenta deputados constituintes, livremente eleitos pelo Povo Português, outro mais talhado para função tão complexa e melindrosa.
Retenho bem viva na memória a sua figura simpática, quase paternal perante a juventude de tantos de nós; o jeito firme e delicado, ao mesmo tempo, com que dirigia os trabalhos; o seu bom humor equânime perante os múltiplos incidentes, alguns deles mesmo dramáticos, que assinalaram o denodado combate para dotar Portugal com uma Constituição verdadeiramente democrática.
Na primeira linha deste combate decisivo esteve sempre, naturalmente, o Presidente Henrique de Barros. Nunca, decerto, sozinho - que idêntico compromisso pela democracia era generalizadamente partilhado pelas deputadas e pelos deputados constituintes. Mas a responsabilidade de quem preside é a maior de todas! E se porventura fraqueja o presidente, o grupo todo treme e o objectivo comum até pode fracassar. Já o escreveu Camões, em verso lapidar: "o fraco rei faz fraca a forte gente!"
Que boa sorte tivemos, na Assembleia Constituinte, com a feliz presidência de Henrique de Barros! A sua inteligência apontou-nos o caminho seguro; o seu vigoroso carácter levou-nos a triunfar de todos os obstáculos e dificuldades.
Se hoje aqui nos reunimos, fruindo os privilégios da liberdade e da democracia, negados a inúmeros dos nossos semelhantes, em certa parte o devemos à liderança do Presidente Henrique de Barros.
Por isso merece e deve estar aqui a sua imagem, no posto e em atitude de guardião da Assembleia da República - e por ela da Constituição e da democracia, que a Revolução do 25 de Abril brindou aos portugueses e às portuguesas.
Mais perene ainda do que a estátua de bronze é o lugar saudoso que Henrique de Barros, detém, como um dos patriarcas do nosso regime democrático, no coração de quantos com ele trabalharam, na Assembleia Constituinte, em serviço de Portugal; perene também será o lugar que lhe cabe na memória colectiva da Pátria, da qual não foi, é, sem dúvida - porque os grandes morrem, mas não passam! - um dos cidadãos mais ilustres.

Pelo seu exemplo de cidadania e também pelo seu contributo no património cultural e político, também a Câmara Municipal de Almada - por deliberação camarária de 19 de Junho de 2006 - decidiu homenagear Henrique de Barros, atribuindo-lhe a Medalha de Ouro da Cidade de Almada.

Sobre Henrique de Barros devem-se assinalar dois factos: um sobejamente divulgado e especificado na sua fotobiografia - a ligação ao grupo de doutrinação e crítica da Seara Nova, muito em particular ao magistério de António Sérgio; outro, quase desconhecido do grande público - a adesão à Maçonaria (aliás numa tradição familiar), tendo sido iniciado, com 25 anos, a 5 de Abril de 1930, na Loja Rebeldia, do Grande Oriente Lusitano, adoptando o nome simbólico Ferreira Lapa, figura emblemática, no século XIX, da estruturação do ensino e da investigação da Agronomia em Portugal.

Henrique Teixeira Queirós de Barros, filho do poeta educador, jornalista e ministro da I República, João de Barros, foi ao longo da sua vida um prestigiado cidadão antifascista e democrata. Foi um professor catedrático no Instituto Superior de Agronomia, economista agrário e investigador com uma vasta obra de valor académico e científico. Não é, por certo, merecedor desta atitude, nem em OHP nem em nenhum local deste pais.

2 comentários:

Anónimo disse...

Durante a apresentação das personalidades para serem homenageadas no feriado municipal, os vereadores Mário Alves e Paulo Rocha (PSD) e José Carlos Mendes (independentes), alegaram que Henrique Barros não é natural de Oliveira e nunca fez nada pelo concelho. “99,9 por cento dos oliveirenses nem o conhece”, chegou a realçar Mendes.

Isso, a ser verdade - e não é - diria tudo acerca da cultura dos Oliveirenses. Vergonha Sr. José Carlos Mendes, tenha vergonha.

Anónimo disse...

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