2009-02-19

Ele aí vai, sem medo...

Diário de Coimbra - 19-02-2009


Militante do PCP lidera Assembleia Municipal do PS

«É uma aliança estratégica com o PS e contra Mário Alves».

Sem “papas na língua” António Lopes, ex-militante do PCP, empresário de sucesso e um dos grandes beneméritos do concelho, assume a sua candidatura à Assembleia Municipal de Oliveira do Hospital pelo PS.

Admite que «pode não ser a atitude politicamente mais correcta», mas «é aquela que me resta», diz o empresário, que foi o cabeça de lista nas últimas autárquica pelo PCP e eleito para a Assembleia Municipal, para além de presidir à Assembleia de Freguesia de Vila Franca da Beira. O empresário, com interesses especialmente ligados à construção civil e mais recentemente à Comunicação Social, confessa que se viu forçado a afastar-se do PCP, muito embora afirme que «me vou manter comunista até ao final da vida». E não deixa de equacionar a possibilidade de, «um dia, voltar a ser militante do partido». Todavia, foi “necessário”, em seu entender, “cortar a corrente” que o ligava ao partido, pois «o PCP entendeu que há mais mundo para além de Oliveira do Hospital e eu sempre fui um militante disciplinado». Com o “suporte partidário” em causa, António Lopes fez questão de se manter na política activa, pois, «como cidadão tenho compromissos para com o meu concelho». Mas, mais que isso, move-o uma verdadeira “fobia” política contra Mário Alves. De resto, sempre disse que, caso Mário Alves fosse novamente candidato, estaria no terreno «para o combater», e é isso mesmo que se prepara para fazer, desta feita sob a bandeira socialista. O actual presidente e candidato do PSD à Câmara de Oliveira do Hospital é, pois, o “alvo preferencial” de António Lopes. «Nunca questionei a sua honestidade e reconheço o seu esforço e capacidade de trabalho, mas não lhe reconheço capacidades de diálogo e uma visão de futuro, que considero fundamentais para o concelho de Oliveira do Hospital», afirma António Lopes.

“Não podia gerir a Câmara por telemóvel”.

Esta oposição “visceral” a Mário Alves e a vontade de «trabalhar para o meu concelho», quase o catapultaram para uma candidatura à Câmara Municipal, onde o “duelo” seria efectivo. O empresário reconhece isso mesmo, mas adianta não ter «vida para isso». «Nunca poderia ganhar a confiança das pessoas e depois traí-la», diz, adiantando que «em nome da honestidade não o posso fazer», tendo em conta «as limitações de tempo, devido à minha vida empresarial». «Não podia gerir a Câmara pelo telemóvel», «é um trabalho que exige muito tempo, estudo e reflexão e eu não tenho essa disponibilidade». «Não poderia estar a tempo inteiro e nunca admitiria estar em part-time», conclui, justificando, desta forma, o porquê de não assumir uma candidatura à Câmara de Oliveira. Afastado do PCP, António Lopes procurou “saídas” e acabou por se afirmar como «uma das pessoas que mais impulsionou a candidatura de José Carlos Alexandrino à Câmara». Amigos de longa data, e “vizinhos” de freguesia (Vila Franca da Beira e Ervedal da Beira), Lopes e Alexandrino foram, também, colegas na Assembleia Municipal e são actualmente os dois “homens forte” do PS, um para a Assembleia, outro para a Câmara. Mas o diálogo político não se fica por aqui, pois António Lopes não se escusa de afirmar publicamente a consideração que tem por José Carlos Mendes, líder da concelhia social-democrata, e afirmar que «todos nós, pessoas de bem do concelho, entendemos que temos de mudar, pois conhecemos a força do caciquismo». Diz ainda que o que as estruturas dirigentes do PSD estão a fazer a Mendes e à secção local «é inqualificável», «um aviltamento contra os princípios democráticos».

“Não queria ser um elemento desestabilizador”

António Lopes desvinculou-se do PCP no final do ano passado, depois de ter sido o primeiro eleito directo do partido para a Assembleia Municipal em 2005. Em finais de 2007 pediu a suspensão do mandato, meses após ter abandonado a presidência da Assembleia de Freguesia de Vila Franca da Beira. Foi, confessa, «uma tentativa para ver se as cosias se compunham», o que acabou por não acontecer e, em finais de Novembro do ano passado renunciou ao mandato.«O ideal do PCP está correcto, não tenho qualquer discordância com o partido», diz, admitindo que «vou ser sempre comunista» e, «se me deixarem hei-de regressar ao partido». As razões para o abandono passam por «um conjunto de situações e acontecimento públicos, que envolveram o meu camarada João Abreu», presidente da Junta de Freguesia de Meruge. A “gota de água” aconteceu, recorda quando pediu «uma auditoria à Câmara, uma ideia que não era minha, era do partido, e que cumpri como militante disciplinado». O autarca de Meruge opôs-se à proposta e “saiu” em defesa de Mário Alves. «Tive de me afastar, não queria dar esse espectáculo, não queria ser um elemento desestabilizador do partido». «Perante as incompatibilidades que surgiram, não queria ser mais um Mário Alves, dentro do partido a combater o partido», refere, aludindo à crispação assumida entre a Concelhia do PSD e o presidente da autarquia. «Não estando reunidas as condições para continuar a ser militante, só me restou sair», diz ainda, confessando que, entretanto, ainda «tentou fazer uma aliança entre o PS e o PCP», que também «não resultou». «Fiz tudo para defender os interesse do partido e do concelho», refere, sublinhando que «ninguém espere que diga mal do PCP, porque nunca o vou fazer».

PCP lamenta decisão de Lopes.

Num lacónico comunicado emitido ontem à tarde, a Comissão Política Concelhia de Oliveira do Hospital do PCP lamenta a decisão de António Lopes, sobretudo porque surge «num contexto em que o Governo PS tem aplicado as políticas de direita que tanto têm prejudicado os trabalhadores, os micro, pequenos e médios empresários, os agricultores e o povo em geral do nosso concelho e de todo o país».Relativamente ao futuro, PCD e CDU afirmam ter «projecto, causas e convicções», e adiantam que «continuaremos a exigir a ruptura com estas políticas». Referem ainda os «inúmeros exemplos de boa gestão autárquica, desenvolvidos a favor das populações», como tem acontecido nas juntas de freguesia de Meruge e Vila Franca da Beira.

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